Localizado a 400 km de Cuiabá, o município de Sorriso, conhecido por sua forte vocação agroindustrial, vem se destacando também como um polo estratégico de industrialização da madeira nativa no norte mato-grossense. Apesar de distante das áreas de colheita da madeira, a cidade oferece vantagens logísticas e mão de obra especializada, levando empresas do setor a verticalizarem sua produção com artigos e peças acabadas para a construção civil e móveis, inclusive com produtos artesanais de alto valor agregado.

Durante encontro realizado com empresários do setor florestal e produtores rurais na sexta-feira (16), no Sindicato Rural de Sorriso, o presidente do Centro das Indústrias Produtoras e Exportadoras de Madeira do Estado de Mato Grosso (Cipem), Ednei Blasius, destacou o potencial da região para o desenvolvimento do manejo florestal sustentável e a viabilidade econômica do uso das áreas de reserva legal, um recurso ainda pouco explorado localmente.
“Sorriso e todo o médio-norte mato-grossense têm vocação natural para o agro, mas também apresentam enorme potencial florestal. Fiz um levantamento e identifiquei grandes áreas de reserva legal com maciços florestais ainda não manejados. Há propriedades com 100, 200, até 500 mil hectares preservados, com espécies nobres como o cedrinho, que poderiam gerar renda significativa por hectare”, afirmou Blasius.

Ele reforçou que a falta de informação é um dos principais obstáculos para o avanço do setor. “Muitos produtores deixam de investir no manejo florestal por desconhecimento. É preciso esclarecer que é possível manejar qualquer proporção de área de reserva legal, independentemente do tamanho da área aberta. Basta ter a matrícula do imóvel, viabilidade econômica e o CAR (Cadastro Ambiental Rural) ativo. O manejo não está relacionado a ivos ambientais”, explicou.
Um dos pioneiros dessa transformação em polo de industrialização de produtos acabados em Sorriso é o empresário Claudinei Reis, que atua no setor desde 1993. Ele começou com o soprador de cedrinho e, ao longo dos anos, direcionou sua empresa para a fabricação de móveis sob medida e peças da linha congregacional, sempre utilizando madeira nativa legalizada. “As serrarias migraram para regiões próximas às florestas, onde está a matéria-prima. Nós optamos por manter a industrialização aqui em Sorriso, aproveitando a disponibilidade de mão de obra e a logística privilegiada. Atualmente, a cidade não possui mais serrarias ativas, apenas empresas de beneficiamento, como a nossa”, destacou.

Adilson Soares Rocha, vice-presidente do Simas, também é referência no setor. Com 23 anos de experiência na base florestal, ele decidiu, há seis anos, se dedicar ao artesanato, transformando resíduos de madeira em peças exclusivas. “O setor florestal de Sorriso se destaca pelo beneficiamento da madeira, com foco na produção de peças acabadas para a construção civil e móveis artesanais. A madeira vem de regiões como Aripuanã, Colniza e Juína, e aqui é beneficiada graças à logística eficiente e à presença, ainda que limitada, de mão de obra especializada. Meu trabalho busca o aproveitamento integral da matéria-prima, transformando raízes, tocos e toras ocas em móveis e peças sob medida, agregando valor ao que antes seria descartado”, explicou.
O prefeito de Sorriso, Alei Fernandes reforçou, durante o encontro técnico, que o município é uma referência no agro, atividade que engloba a produção florestal. “Por isso, precisamos incentivar essa atividade econômica tão importante para Mato Grosso”, disse. Na ocasião, também estiverem presentes o presidente do Fórum Nacional das Atividades de Base Florestal (FNBF), Frank Almeida, o secretário de Agricultura e Meio Ambiente de Sorriso, Clóvis Picolo, bem como os vereadores Gringo e professora Silvana Perin.